segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Doubt


Ficha Técnica:

Dúvida (Doubt) EUA 2008

"There is no evidence. There are no witnesses. But for one, there is no doubt."

Diretor: John Patrick Shanley

Escritor: John Patrick Shanley (peça e roteiro)

Estúdio: Goldspeed Productions

Elenco: Meryl Streep, Philip Seymour Hoffman, Amy Adams, Viola Davis


Em 1964, em uma escola católica tradicional no Bronx, uma freira extremamente disciplinada levanta suspeitas sobre o envolvimento supostamente sexual de um padre com um aluno negro. O caso não tem provas, mas a irmã Aloysius alega ter certeza absoluta que seu superior cometeu um crime e ela inicia uma luta moral para derrubar o padre que revida com sermões e ameaças.

Dúvida. É com esta palavra que o Padre Flynn (interpretado por Philip Seymour Hoffman) inicia seu primeiro sermão, que é também a primeira cena do filme. Neste sermão, Flynn fala aos fiéis sobre os confrontos morais levantados pela dúvida, sobre como ela pode ser uma tortura para aqueles que buscam o caminho da justiça e de Deus. Independente das palavras, brilhantemente escritas por John Patrick Shanley, é o homem que as fala que já prende a atenção, com um carisma e força dignos de grandes líderes da história.

Mas de que homem estamos falando? Flynn ou Hoffman? O padre moderno ou o ator que lhe dá vida? A verdade é que um não seria capaz de existir sem o outro. E isso é verdade para os três papéis que compõe a trama de Dúvida. Amy Adams e Meryl Streep aparecem com uma série de contrastes, como atrizes e personagens. Enquanto a experiente Aloysius (Streep) já está marcada pelos horrores que viu na vida, James (Amy Adams) passa pelo sofrimento de defender uma ditadora ou um suspeito, ambos seus superiores e pessoas importantes na sua educação religiosa.

A própria história é capaz de despertar o interesse, deixando o espectador tão ansioso quanto os personagens que entram armados com cruzes e palavras neste combate deturpado sobre o certo e o errado. A dúvida que corrói o coração da inocente irmã James, parece ser incapaz de derrubar a certeza arrogante de sua companheira Aloysius e o espectador se vê confuso entre defender um lado ou outro.

Isso só acontece porque a situação é exposta de forma espetacular por John Patrick Shanley, mostrando os lados da história apenas de relance, deixando margem para o trabalho fantástico da imaginação daquele que assiste ao filme. O diretor se utiliza do recurso de completar as lacunas de uma história cheia de falhas e é capaz de dividir uma platéia ao meio. Se defendermos Aloysius, podemos estar condenando um menino excluído, que só tem como amigo o padre Flynn, à infelicidade. Mas se defendermos Flynn, podemos estar colaborando com um dos piores crimes que a humanidade conhece. E é neste instante de indecisão, quando já não sabemos quem defender, que se encontra a força do filme.

Dúvida é uma história sobre pessoas. Acima de tudo, sobre as fraquezas destas pessoas, sobre os demônios internos que elas tem que enfrentar e sobre as decisões difíceis que tem que tomar, nem sempre baseadas em algo sólido. Por esta razão é que o filme pode ser considerado uma obra prima: por retratar, com a competência de granedes atores, as complexas emoções da humanidade, especialmente quando enevoadas pela religião, pela sociedade e acima de tudo, pela incerteza.


Fico por aqui hoje!

Até breve!

Um comentário:

Denis Garcia disse...

Estou absolutamente de acordo com você. "Dúvida" é um filme que perturba, que incomoda, um filme arquitetado para gerar mais perguntas que respostas. E se utiliza de um tema polêmico e de atores fantásticos para atingir o seu objetivo. Um dos melhores dos últimos tempos, juntamente com "O Leitor", que também trabalha esse conflito interno de cada indivíduo com maestria.